FORTE DA ILHA DO PESSEGUEIRO

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FORTE DE NOSSA SENHORA DA QUEIMADA DO PESSEGUEIRO OU FORTE DA PRAIA DO PESSEGUEIRO OU FORTE DA ILHA DE DENTRO

Publicado em 17 \17\+00:00 Setembro \17\+00:00 2020 por davatudoparaestaraquioutravez


Forte de Nossa Senhora da Queimada do Pessegueiro ou Forte da Praia do Pessegueiro ou Forte da Ilha de Dentro


7 de Fevereiro de 2016


Localização de Sines

Ilustração 1



FORTE DE

NOSSA SENHORA DA QUEIMADA DO PESSEGUEIRO




Localiza-se na costa alentejana, na freguesia de Porto Côvo, concelho de Sines, distrito de Setúbal.

Os estudiosos acreditam que a ocupação desta costa remonta aos navegadores cartagineses, anteriormente à segunda guerra púnica [1] (218-202 a.C.). À época da invasão romana da Península Ibérica, a Ilha abrigou um pequeno centro pesqueiro, conforme atestam os vestígios, recentemente descobertos, de tanques de salga. Conforme, também, testemunham os restos arqueológicos de edificações dos séculos I e II, de um balneário do século IV e de tanques para a manufactura de salga de peixe, descobertos no final da década de 1970 e escavados a partir do Verão de 1981.

O Forte fica em posição dominante sobre a Praia do Pessegueiro e destinava-se a cruzar fogos com o Forte de Santo Alberto do Pessegueiro ou Forte da Ilha do Pessegueiro ou Forte da Ilha de Fora, localizado na Ilha do Pessegueiro.

Na época da dinastia filipina, projectou-se a ampliação daquele ancoradouro natural, com o objectivo de evitar que corsários o usassem como ponto de apoio naquele trecho do litoral.

Pretendia-se assim aproveitar as condições naturais da zona para formar um grande porto, com funções simultaneamente comerciais e militares, que servisse a costa Sudoeste, já que era considerado à época, entre Setúbal e Lagos, a melhor saída para o mar.

O projecto teve a aprovação do então vice-rei de Portugal, cardeal Alberto Ernesto de Habsburgo.

Ambos faziam parte de um projecto maior de defesa da Costa Vicentina, que compreendia um porto artificial, ao abrigo de um molhe de pedra que ligaria a Ilha do Pessegueiro à ilhota fronteira – Penedo do Cavalo – e esta ilhota ao continente.

Depois de escolhido o sítio, os trabalhos iniciaram-se em 1588, com a construção do Forte de Nossa Senhora da Queimada do Pessegueiro e pelo corte de blocos de pedra que foram lançados entre a Ilha do Pessegueiro e o Penedo do Cavalo, sob a direcção do arquitecto e engenheiro militar italiano Filippo Terzi (1520-1597).

Em 1590, Terzi foi substituído na direcção dos trabalhos pelo engenheiro militar e arquitecto napolitano Alexandre Massay. Este iniciou, na ilha, a edificação do Forte de Santo Alberto.

Com a transferência de Massay para as obras de defesa da barra do Rio Mira os trabalhos no porto e nos fortes do Pessegueiro foram interrompidos em 1598.

Recomeçadas em 1603, as obras foram interrompidas pouco depois.

As obras no Forte de Nossa Senhora da Queimada, na Praia do Pessegueiro, foram novamente reiniciadas em 1661, para serem concluídas em 1690.

No contexto da guerra da restauração da independência (1640-1668), sob a regência de D. Luísa de Gusmão, foram reiniciadas as obras do Forte de Nossa Senhora da Queimada (1661), concluídas em 1690, sob o reinado de D. Pedro II de Portugal.

Ficaram inacabadas as obras de ampliação do ancoradouro, assim como as do Forte de Santo Alberto, na Ilha.

Entre 1679 e 1684, as obras ficaram a cargo do engenheiro militar João Rodrigues Mouro.

O Forte de Nossa Senhora da Queimada, inaugurado, ficou guarnecido por trinta homens e artilhado com cinco peças, sob o comando de João Rodrigues Mouro.

À época do Terramoto de 1755, a Capela da Queimada e as baterias [2] sobre as casamatas [3] sofreram danos.

Tendo perdido a função defensiva diante da evolução dos meios bélicos, foi desguarnecido por volta de 1844.

De 1877 a 1942, as suas dependências foram ocupadas por uma guarnição da Guarda Fiscal.

Em 1962, foi concebido o projecto de requalificá-lo como uma pousada, projecto que jamais saiu do papel.

Foi classificado como Monumento Nacional pelo Decreto nº: 41.191 de 18 de Julho de 1957 e como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº: 735 de 21 de Dezembro de 1974.

Entre 1983 e 1985 foram-lhe efetuadas obras de consolidação e de beneficiação da estrutura, por iniciativa da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. As obras foram, especificamente, ao nível dos paramentos exteriores do baluarte [4] esquerdo e da zona central, na zona da porta de entrada. Procedeu-se ainda à reconstrução de zonas ruídas ou em risco de desprendimento.

Em 2008, o Forte de Nossa Senhora da Queimada foi objecto de obras com o investimento de 310.000 €, suportados em 87,5% pelo Instituto de Conservação da Natureza (ICN) e o restante pela Câmara Municipal de Sines.

Os trabalhos implicaram sobretudo a estabilização da Fortaleza e do talude [5]onde assentam os seus alicerces, bem como o reforço estrutural de tectos, paredes, pavimentos e terraços.

O Forte de Nossa Senhora da Queimada encontra-se erguido sobre rocha de arenito, a mesma pedra utilizada na alvenaria dos seus muros.




É um exemplo de arquitectura militar, quinhentista e seiscentista, de enquadramento rural, isolado, à borda-d´água.

Apresenta planta poligonal quadrangular, reforçada por baluartes triangulares, com muros em talude.

Tem tenalha [6] de dois baluartes nos ângulos Sudeste e Sudoeste, pelo lado de terra e uma bateria poligonal sobre a praia.

A estrutura é circundada por um fosso, defendido por um muro baixo.




O portão de armas rasga-se a meio do pano de muralhas, pelo lado de terra, e é acedido por ponte de madeira sobre o fosso.



Pelo túnel de entrada acede-se às dependências de serviço, em dois pavimentos, dispostas em “U”: quarteis da tropa, casa de comando, Capela de Nossa Senhora da Queimada (abobadada), cozinha, paiol, depósitos. As casamatas são abobadadas, com chaminés.

Do átrio, uma escada larga conduz a amplo terraço.

Observam-se vestígios de uma guarita circular, a meio do pano [7] de muralha, pelo lado do mar (Oeste).

Os muros são espessos, em talude, em alvenaria [8] , com cunhais [9] em cantaria [10] , encimados por parapeito acima de um toro semicircular envolvente.


NECRÓPOLE DO PESSEGUEIRO

A jazida da Idade do Bronze do Pessegueiro, também conhecida por Cemitério dos Mouros, situa-se na Herdade do mesmo nome, no litoral alentejano.

Identificada em 1972, aquando do início da prospecção sistemática realizada pelo Grupo de Trabalho Arqueológico do Gabinete da Área de Sines, o Cemitério dos Mouros foi objecto de extensas escavações dirigidas por Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, coadjuvados por Joaquim Vilhena, entre 1975 e 1979, que abrangeram a área de aproximadamente 20.000 m².

Esses trabalhos permitiram identificar o núcleo habitacional do Bronze Pleno do Sudoeste, povoado de ar livre, rodeado por cinco monumentos sepulcrais da mesma época, situados a curta distância daquele.

Os trabalhos desenvolvidos no Pessegueiro a partir de 1975 puseram a descoberto um maior número de vestígios do Bronze do Sudoeste e permitiram conhecer como se organizavam e relacionavam os diversos monumentos sepulcrais e o núcleo habitacional.

A Necrópole encontra-se cronologicamente compreendida entre 1.500 e 1.200 a.C..

Pela primeira vez, na história da investigação sobre a Idade do Bronze no Sul Peninsular, foi identificado um habitat da “cultura” do Bronze do Sudoeste e apreendeu-se a correspondente relação espacial povoado-necrópole.

O povoado e a necrópole distribuíam-se por uma superfície de 60.000 m², no mínimo, limitados a Norte e a Sul por duas linhas de água. É provável que todo este conjunto se estendesse até à praia.

Esta ocupação integra um sistema de povoamento regional, hierarquizado e socialmente diferenciado, correspondente a fase avançada do processo que conduziu ao aparecimento das primeiras sociedades estatais.

Não obstante as destruições provocadas pela lavoura, foi ainda possível pôr a descoberto algumas estruturas de habitat: lareiras, buracos de poste e pavimentos lajeados.

A necrópole encontra-se a escassos metros da área do povoado.

Existem algumas sepulturas que se encontram agrupadas numa área central e outras mais afastadas. Têm tamanhos diferentes e a matéria-prima também é diversificada.

Na zona mais oriental da área escavada foi posto a descoberto um monumento funerário neolítico constituído por cinco sepulturas individuais e sobreposto ao habitat da Idade do Bronze, um núcleo sepulcral da Idade do Ferro, correlacionável com a mais antiga ocupação identificada na Ilha do Pessegueiro.

Só em 1985, o interior das sepulturas foi objecto de escavações através de um campo de trabalho promovido pela Direcção de Relacções Públicas do Gabinete da Área de Sines, pelo FAOJ [11] e Museu de Arqueologia e Etnografia do distrito de Setúbal, que para aí deslocou a arqueóloga Antónia Coelho Soares e o técnico de arqueologia Júlio Costa.

O estado de conservação do Monumento II do Pessegueiro pode ser considerado razoável, face ao contexto pós-deposicional pouco favorável, do qual se destacam duas ordens de factores:

Acção da agricultura, embora não mecanizada. Deslocação e fragmentação de todas as tampas sepulcrais. Afectação da parte superior dos esteios [12] , impossibilitando de um modo geral, a determinação da profundidade original e, portanto, do volume dos contentores sepulcrais. Destruição de algumas das estruturas que delimitavam os recintos tumulares. Tais destruições fizeram-se sentir sobretudo na periferia do monumento onde, pela menor densidade de estruturas, a charrua teria atingido maior profundidade e maior poder destrutivo.

Violações que teriam ocorrido, pelo menos em parte, na sequência dos trabalhos agrícolas referidos.

O Monumento II do Pessegueiro é constituído por vinte e sete sepulturas, todas de tipo cista [13] . Este número permite integrá-lo no grupo dos monumentos sepulcrais do Bronze Pleno do Sudoeste com maior número de tumulações.

Porém o Monumento II do Pessegueiro, que abrange área de planta aproximadamente oval, com cerca de 16 m de eixo maior (orientação Este-Oeste) e 14 m de eixo menor (orientação Norte-Sul), parece ter resultado da fusão de quatro núcleos sepulcrais distintos, ainda que muito próximos uns dos outros.

Cada sepultura implantava-se no seio de recinto tumular geralmente de planta sub-rectangular e limitado por pequenos esteios. O tumulus seria provavelmente de terra, talvez proveniente do povoado, sem elementos pétreos.

A morfologia do Monumento II do Pessegueiro, em “favo”, aproxima-o do Monumento I da mesma Necrópole.

As sepulturas, de tipo cista, com planta sub-rectangular, formadas por quatro esteios (dois laterais, maiores e dois de topo, menores), seriam cobertas por tampa, talvez predominantemente monolítica. Porém não se conservou nenhuma das presumíveis tampas.

O material utilizado na construção foi o arenito dunar (com afloramentos na Praia da Ilha e na área da Fortaleza do Pessegueiro) e o xisto (com numerosos afloramentos nas proximidades da jazida). O arenito dunar é exclusivo de catorze sepulturas e acompanha o xisto em três. O xisto é exclusivo em dez sepulturas.

A distribuição espacial desta matérias-primas não parece ser aleatória: as sepulturas mais antigas de cada núcleo são de arenito dunar, localizando-se as de xisto na periferia. O arenito dunar encontra-se mais confinado e a sua extracção, corte e regularização em placas adequadas à construção de cistas exige maior investimento do que o xisto.

As sepulturas mais antigas de cada núcleo são as que oferecem dimensões mais elevadas. As da periferia do núcleo, por conseguinte mais recentes, são mais pequenas.

A técnica de construção segue o padrão mais comum no Sudoeste Peninsular. Os esteios laterais, que atingem maiores profundidades, travam os do topo, de menor altura. Apenas em duas sepulturas os esteios laterais eram travados pelos de topo. Mas, em todos os contentores, os esteios laterais eram mais altos do que os de topo, implantando-se a diferentes cotas, em roços abertos no substrato geológico, de arenito argiloso, enquanto que a base dos de topo assentava sobre a superfície do mesmo substrato.

No que respeita à orientação das sepulturas predomina a Nordeste-Sudoeste, em 33,3%, seguida pela orientação Este-Oeste, com 29,6%, e pela Norte-Sul, com 25,9%.

Verifica-se que as sepulturas mais antigas apresentam orientação Norte-Sul, posteriormente, e em torno daquelas, foram construídas sepulturas de orientação Este-Oeste e, mais tarde ainda, de Orientação Nordeste-Sudoeste.

Porém, no Monumento I do Pessegueiro, as sepulturas mais antigas estão orientadas na direcção Este-Oeste, mas as mais recentes possuem orientação Norte-Sul.

Os sedimentos que preenchiam as sepulturas distribuíam-se por diversas camadas que se distinguiam entre si por diferenças de côr, consistência e compacidade.

Assim, a parte superior das sepulturas e, nos casos de violação, a sua quase totalidade era ocupada pela camada (C.) 1, arenosa, de pequena compacidade, côr amarelo-acinzentada escura, com raízes e, por vezes, com pequenos fragmentos de xisto e/ou arenito dunar. Correspondia à penetração da C. 1 do exterior das sepulturas (nível superficial da jazida do Pessegueiro, actuado pelas lavouras), no interior das mesmas, após a remoção das respectivas tampas.

Nos casos em que não se verificou violação, seguia-se camada (C.) 2 de areia branco-amarelada, de compacidade média e espessura variando entre 0,05 m e 0,25 m, que se teria formado pela infiltração de sedimento quando a sepultura se encontrava ainda coberta pela tampa.

Sempre que o contentor forneceu espólio (osteológico ou arte factual), este era embalado pelo sedimento da C. 2.

A C. 3 era constituída pela formação geológica, um arenito castanho-avermelhado com manchas branco-amareladas, de grande a muita compacidade; no topo desta camada foram abertos roços para a implantação dos esteios laterais das sepulturas.

A estratigrafia do enchimento das sepulturas não violadas mostra que o inumado não seria coberto por terra.

Só uma sepultura forneceu material osteológico humano. Nas restantes, certamente por razões tafonómicas [14] relacionadas com a acidez e a lixiviação do meio, esse tipo de material estava ausente. Para a sua conservação teria contribuído a associação entre a natureza litológica dos respectivos esteios (arenito dunar, de cimento calcário) e o facto de terem sido sepultados dois indivíduos, criando-se assim um ambiente menos ácido.

O estudo antropológico dos restos dos dois indivíduos foi efectuado por Teresa Matos Fernandes.

Esta investigadora concluiu que os dois indivíduos foram sepultados em ocasiões diferentes. Em primeiro lugar, inumou-se um indivíduo do sexo masculino que teria, à morte, idade inferior a 30 anos. Mais tarde, quando os tecidos moles já haviam desaparecido e após os seus ossos terem sido “arrumados” junto dos esteios laterais, procedeu-se à inumação, em decúbito lateral direito, em posição fetal, com flexão total, a cabeça a Nordeste, do segundo indivíduo, pertencente ao sexo feminino, com estatura estimada em 1,50 m, que morreu com uma idade compreendida entre os 35 e os 45 anos.

Somente sete sepulturas forneceram artefactos. A ausência destes em grande parte das sepulturas escavadas pode ter resultado de violações.

Porém surgiram sepulturas que, embora não revelando sinais de terem sido violadas, não entregaram qualquer espólio. Localizam-se nas zonas periféricas dos respectivos núcleos sepulcrais.

Também a sepultura com espólio osteológico humano se mostrou artefactualmente estéril.

Três sepulturas continham somente uma peça cada, representada por um recipiente em cerâmica.

Uma das sepulturas forneceu três espirais de prata e vinte e três contas perfuradas. Outra, um recipiente em cerâmica, carenado e um punção de cobre. A última, continha um recipiente em cerâmica de colo estrangulado e decorado por bandas e um punção de cobre.

No exterior das sepulturas existiam numerosos fragmentos de cerâmica. Os fragmentos só muito raramente permitiram colagens entre si; eram de diferentes dimensões e estados de rolamento. Distribuíam-se de modo não homogéneo, notando-se uma enorme concentração coincidente com a área do monumento sepulcral e um decréscimo brusco do número de exemplares ao afastar-se dessa área.

Foram analisados um punção [15] e um punhal, provenientes desta necrópole. Quer o punção quer o punhal, incluindo os rebites são de cobre arsenical, embora o arsénio se apresente numa percentagem bastante baixa. Além destes elementos, também o chumbo foi detectado mas como elemento vestigial.

De outra zona desta necrópole provêm três fragmentos de cadinho, com origem provável no povoado que lhe fica junto. Um deles apresentava restos de metal aderente. A análise efectuada permitiu detectar a presença de arsénio em quantidade que, em algumas regiões da face interna, é próxima da do cobre, o que levou a concluir que o cadinho servia para a fundição do cobre fortemente arsenical. Parece, assim, poder afirmar-se que as duas tecnologias do cobre estariam presentes no Pessegueiro.

Foram também encontradas espirais de prata pura, não se detectando qualquer vestígio de chumbo ou de cobre, o que indica que as espirais terão sido feitas a partir de prata nativa. Os outros elementos químicos presentes devem-se à corrosão que os artefactos sofreram – o aspecto exterior destes artefactos indica que os mesmos estão bastante corroídos. O cloro e o bromo aparecem habitualmente em objectos de prata que estiveram enterrados. Provindo os artefactos de prata analisados de sepulturas, são normais os elevados teores de bromo e de cloro neles determinados.







A GUARDIÃ DA NECRÓPOLE:”CARLOTA JOAQUINA”



”CARLOTA JOAQUINA”: velha de muitas eras!


ILHA DO PESSEGUEIRO

Conta a lenda que, certo dia, chegaram à Ilha do Pessegueiro piratas norte-africanos.

Só encontraram na Ilha um ermitão decidido a defender a Capela à sua guarda e a impedir a todo o custo o seu próprio cativeiro.

Os piratas mataram o ermitão, saquearam a Capela e atiraram para um silvado a arder, a imagem da Virgem. Depois, partiram.

Vieram então as gentes de Porto Côvo dar arranjo aos destroços e enterraram o ermitão.

Não vendo a imagem de Nossa Senhora, procuraram-na por toda a Ilha e foram descobri-la intacta, sem qualquer dano.

O povo de Porto Côvo colocou então a imagem noutra ermida que passou a ser conhecida como Capela de Nossa Senhora da Queimada.





“Roendo uma laranja na falésia

Olhando o mundo azul à minha frente,

Ouvindo um rouxinol nas redondezas,

No calmo improviso do poente


Em baixo fogos trémulos nas tendas

Ao largo as águas brilham como prata

E a brisa vai contando velhas lendas

De portos e baías de piratas.


Havia um pessegueiro na ilha

Plantado por um vizir de Odemira

Que dizem por amor se matou novo

Aqui, no lugar de Porto Côvo.


A lua já desceu sobre esta paz

E reina sobre todo este luzeiro

À volta toda a vida se compraz

Enquanto um sargo assa no braseiro.


Ao longe a cidadela de um navio

Acende-se no mar como um desejo

Por trás de mim o bafo do destino

Devolve-me à lembrança o Alentejo.


Havia um pessegueiro na ilha

Plantado por um vizir de Odemira

Que dizem por amor se matou novo

Aqui, no lugar de Porto Côvo.


Roendo uma laranja na falésia

Olhando à minha frente o azul-escuro

Podia ser um peixe na maré

Nadando sem passado nem futuro.


Havia um pessegueiro na ilha

Plantado por um vizir de Odemira

Que dizem por amor se matou novo

Aqui no lugar de Porto Côvo.”

Carlos Tê, Rui Veloso


“Hitchcock apresenta”:





A primeira vez que visitei o Forte e a Necrópole do Pessegueiro, foi para aí em 1992, fiquei extasiada.

Tinha o apetite aguçado havia anos pela canção do Rui Veloso, mas o meu pai nunca saía do Almograve assim que lá chegávamos.

A Necrópole estava vedada mas via-se bem. O Forte estava abandonado, mas podia lá entrar-se e ainda estava bastante intacto, o que me maravilhou, claro.

Voltei lá uma segunda vez, arrastando a Laura, coitada, que não gosta nada destas coisas e queria era ir a Porto Côvo. Dissemos-lhe que Porto Côvo era só uma rua para cima e outra para baixo e que não tinha nada que vêr. Ora, na altura eu nunca sequer tinha ido a Porto Côvo!

Voltei num Verão em que fomos para a praia.

Há cerca de quatro anos estive lá com os meus pais e o meu coração caiu ao chão: a Necrópole estava abandonada, com as vedações caídas e infestada de vegetação. De “carrapatos” também: o meu pai levou três ou quatro nas calças e eu expulsei-o do carro por isso.

O Forte tinha tido as paredes rebocadas mas estava fechado, sem visitas (grandes c….)! A vegetação em volta estava minada por pequenos “piolhos” cor de laranja. Quando olhámos para os ténis, estavam tapados por uma mancha móvel, cor de laranja.

Agora, quando voltei, já me encontrava preparada para não poder visitar o Forte.

A Necrópole teve as suas vedações erguidas e estava mais ou menos limpa de ervas.

Ainda era Inverno, pelo que a “bicheza” estava mais ou menos sossegada.

Tenho que tentar ir mesmo à Ilha, algum dia.

Em relação à Necrópole, fascina-me, é certo. Por outro lado, aquelas pessoas enterraram ali os seus mortos para sempre, não era suposto irem lá incomodá-los. Se os enterraram com os seus objectos, era porque estes lhes faziam falta.

Ficam desde já avisados, se me forem desenterrar e tirar as minhas coisinhas, irei durante a noite puxar-lhes os dedos grandes dos pés.

E o que fazem aos restos mortais encontrados? Encerram-nos num museu qualquer? Longe do Sol, do vento e da chuva? Não me consigo decidir se concordo ou não!…


[1] As guerras púnicas consistiram numa série de três conflitos que opuseram a República Romana e a República de Cartago, cidade-estado fenícia, no período entre 264 a.C. e 146 a.C.. Depois de quase um século de lutas, no fim das guerras púnicas, Cartago foi totalmente destruída e Roma passou a dominar o Mar Mediterrâneo. O adjectivo “púnico” deriva do nome dado aos cartagineses pelos romanos: punici (de Poenici, ou seja, de ascendência fenícia).


[2] Lugar ocupado por artilharia.


[3] Construção subterrânea abobadada para abrigar dos projécteis pessoas, materiais e munições.


[4] Igual a bastião. Espécie de fortim construído onde as muralhas formam ângulo.


[5] Declive ou inclinação que se dá à superfície do revestimento de um muro, de um paredão, de um fosso, etc.


[6] Obra exterior de uma fortificação, com uma estrutura que forma um ângulo reentrante para o lado do campo.


[7] Cada um dos lados ou faces de uma obra em construção.


[8] Conjunto de pedras, tijolos, blocos ou outros materiais, geralmente ligados com cimento ou argamassa, usados na construção de paredes ou muros.


[9] Ângulo saliente formado por duas paredes de um edifício.


[10] Pedra lavrada ou simplesmente aparelhada – preparada de modo a que as peças se ajustem com outras – geralmente em paralelepípedos, para construções.


[11] Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis.


[12] Peça para escorar.


[13] Urna funerária.


[14] Tafonomia: estudo dos processos que ocorrem após a morte de um organismo até à sua fossilização.


[15] Instrumento que serve para furar ou para gravar.


Webgrafia


https://pt.wikipedia.org

http://www.tintazul.com.pt

http://fortalezas.org (“Forte do Pessegueiro”)

http://www.alentejolitoral.pt

https://ptdocz.com/ (ARAÚJO, Maria de Fátima et all; “Anexo II – Análise Química não destrutiva

dos artefactos metálicos do Monumento II da Necrópole do Pessegueiro”; Estudos Arqueológicos de

Oeiras; 17; Oeiras, Câmara Municipal; 2009; pág. 429-432

http://www.portugalromano.com (“Porto romano na Ilha do Pessegueiro – Porto Côvo, Sines”; 15 de Dezembro de 2011)

http://www.cm-oeiras.pt (SILVA, Carlos Tavares da e SOARES, Joaquina; “Práctica funerárias no Bronze Pleno do litoral alentejano: o Monumento II do Pessegueiro”; Estudos Arqueológicos de Oeiras; 17; Câmara Municipal; 2009; pág. 389-420)

http://www.priberam.pt

http://www.infopedia.pt

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